"Essa terra foi um ímã que atraiu trabalhadores de muitos lugares”
- Redação

- 17 de jul.
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O presidente da UTAGRO, Elio Neves, um dos articuladores da formação dos Assentamentos da Fazenda Monte Alegre, celebra 40 anos de luta por reforma agrária e destaca desafios para o futuro
Festa histórica
Neste domingo (13), a Fazenda Monte Alegre completou 40 anos com um evento marcado por celebrações. Organizada pela UTAGRO (União dos Trabalhadores do Agro Vida Sustentável), a celebração reuniu cavalgada, shows, feira de produtos locais e almoço comunitário na Agrovila Núcleo 1. Elio Neves, presidente da UTAGRO e um dos articuladores da fundação do local, concedeu entrevista ao Cenário durante o evento, resgatando a trajetória de luta e de resistência dos moradores.
A greve em Guariba, onde tudo começou
Elio relembrou que a mobilização para a criação da Fazenda Monte alegre iniciou em 1984, após a greve histórica de Guariba, quando trabalhadores rurais demitidos e sem perspectivas encontraram na terra uma solução coletiva. "Os trabalhadores que fizeram a greve, principalmente o pessoal da Comissão de Base, foram demitidos, e não arrumavam mais emprego em lugar nenhum. A solução encontrada foi arrumar uma terra pública para eles tocarem vida", relatou. A articulação com o governo Montoro garantiu a criação do projeto, que atraiu famílias de regiões como Sertãozinho, Pontal, Rio Preto e Cravinhos: "Essa terra foi um ímã. Uniu gente de muitos lugares".
Documentação e segurança jurídica
Quatro décadas depois, o sindicalista enfatizou que a luta pela consolidação do movimento que resultou na Fazenda Monte Alegre ainda não terminou. "O grande desafio é libertar os Assentamentos: documentar e dar segurança jurídica às famílias", apontou, criticando a morosidade do governo: "Não existe essa de que o estado é dono e faz o que quer. O dono é o povo". Para ele, a regularização fundiária é essencial para garantir direitos básicos aos moradores.
Segurança alimentar
Sobre a produção no meio rural, Elio apontou a dicotomia ao longo da história. "Somos um dos maiores produtores globais de alimentos, mas temos fome". A solução, de acordo com ele, exige "coragem para lutar" por mudanças estruturais: "Não devemos ficar dependentes das exportações - como vemos no "tarifaço" de Trump -. Precisamos produzir mais comida aqui, oferecer renda para o povo consumir... viver bem... se alimentar bem. E aí o excedente pode ser exportado".
Novas gerações
Com a idade média dos assentados ultrapassando 60 anos, Elio refletiu sobre os desafio da permanência das novas gerações nos Assentamentos. "Não se faz agricultura como há 20 anos. Os jovens querem ter acesso às novas tecnologias e equipamentos". Para ele, a saída está em "democratizar o conhecimento científico" no campo: "O jovem precisa de tecnologia acessível, não excludente". Ele ainda citou um movimento inverso: a busca pelo campo pela falta de oportunidades nos meios urbanos. "Porque também na cidade já não tem mais tanta perspectiva para o jovem crescer, pelo avanço da tecnologia que gera essa exclusão em massa".
Evento fortalece laços comunitários
A celebração dos 40 anos, que contou com apoio de entidades como NUPEDOR, AAMAR e Prefeitura de Motuca, reforçou o simbolismo do Monte Alegre como marco da resistência. "É uma festa para fortalecer história, cultura e comunidade".




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