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Foto do escritorRedação

Entenda o apogeu e a derrocada de um dos maiores cantores da história do país


Quem foi Wilson Simonal? Talvez seja essa a pergunta que a maioria das pessoas que não viveram a década de 60 faça ao se deparar com o nome do cantor mais popular da época e que viveu um apogeu que praticamente nenhum cantor brasileiro experimentou. Com sucessos como “Sá Marina”, “Vesti Azul”, “País Tropical”, dentre outros, Simonal era dono de um swing único, que misturava a malemolência do samba com o refinamento da bossa nova e do jazz, passando pela MPB e até inventando um novo ritmo apelidado na época de “pilantragem”.

Seu carisma único que hipnotizava plateias logo o levou à TV, sendo então o primeiro negro a comandar sozinho um programa, o “Show in Si Monal”. Também foi o primeiro cantor a lotar um estádio com mais de 30.000 pessoas mostrando total domínio sobre a platéia, numa época em que as apresentações artísticas eram feitas em lugares menores como teatros e boates. Ele cantava, dançava, era multi-instrumentista, fazia imitações. Foi talvez o primeiro “show man” genuinamente brasileiro. Momentos únicos que registram toda a genialidade de Simonal podem ser encontrados no YouTube, em particular o histórico show com a cantora americana Sarah Vaughan, em 1970.


A despeito de tanto frenesi em torno de sua figura e do carisma que arrebatava os fãs, o cantor não era exatamente uma pessoa fácil de lidar. Considerado de gênio difícil, por vezes desaforado e deslumbrado com o sucesso, gostava de ostentar seus carrões importados, sua cobertura em Ipanema, suas louraças, seu prestígio com pessoas importantes – nada muito diferente do que os jogadores de futebol e grandes personalidades do meio musical fazem nos dias atuais, mas para a época, o cantor só conseguiu despertar inveja, racismo e ressentimento. Talvez por isso seja fácil explicar o estalo que fez com que sua carreira até então intacta, construída ao longo de 10 anos, fosse destruída e ele caísse no ostracismo total.

O ano era 1971, auge da ditadura, e Simonal ao desconfiar que seu contador o estava roubando, pediu ao Dops (Departamento Investigativo ligado à ditadura) para dar uma “dura” no sujeito. Esse episódio foi o suficiente para que o cantor fosse acusado de colaborar com os militares na delação de artistas considerados contrários ao sistema. O meio artístico e a mídia (essa encabeçada principalmente pelo jornal “O Pasquim”) começaram uma campanha acusando injustamente Simonal de “dedo-duro” e isso foi o suficiente para que todo o legado artístico do cantor fosse banido da história da MPB.

Simonal acabou pagando um preço alto por ter sido apolítico e vivido ingenuamente os anos de chumbo da ditadura militar, mostrando não se interessar pelo que acontecia por trás do pano. Seu nome a partir desse episodio acabou decaindo, sua plateia, seus amigos e seu prestígio sumiram junto com seu dinheiro. Nos 30 anos seguintes, tentou em vão continuar com sua carreira e acabou sucumbindo à depressão e ao alcoolismo, deixando pra trás uma herança musical enorme que cabe às novas gerações resgatar.

A quem se interessou por essa história triste, mas ao mesmo tempo fantástica, vale a pena assistir o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei", do humorista Cláudio Manoel.

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