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Tributo a Zé Pedro: A arte em pessoa!

Neste outubro de 2025, o mundo das letras e das ciências sociais perdeu um apaixonado pela arte e cultura. Zé Pedro partiu deste mundo e, para mim, virou uma estrela a brilhar também no firmamento.


Antes de falar um pouco sobre Zé Pedro e sobre minha relação com ele — bem marcante por sinal —, vou retroceder no tempo para dar sentido a este texto.


Sempre gostei de ler e escrever. Falar com clareza acabou se tornando algo natural, embora tenha demorado um pouco mais. Lia discursos em datas comemorativas, já alfabetizado no ensino fundamental. Eu lia de tudo: gibis, romances, ficção — tudo o que me caía nas mãos.


Com o tempo, já adulto, percebi que tinha adquirido um conhecimento, ainda que discreto, sobre literatura. A vontade de escrever veio de uma cobrança interior, uma vontade imperiosa que queria sair peito afora. Lia várias obras e também um jornal de circulação diária, do qual eu era assinante.


Nesse jornal, havia um articulista que me atraía muito. Tinha uma visão ampla do mundo, especialmente no campo econômico. Aliás, ele escreve até hoje nesse periódico. Em determinado momento, tomei coragem e entrei em contato com Roberto Macedo. Nesse primeiro contato, deixei clara minha vontade de escrever. Não acreditava muito que receberia resposta, mas recebi.


Ele disse que ficou feliz com meu interesse e elencou alguns itens, alguns parâmetros para uma boa redação: começar por um tema de interesse; reconhecer o gênero do texto — se crônica, artigo ou narrativa; respeitar a gramática; ter início, meio e fim. Disse também que a escrita é fruto da imaginação e da construção e que, às vezes, criamos palavras inexistentes, aceitas pela licença poética. Terminou com um “boa sorte”.


Agradeci e percebi que precisava de alguém que me ajudasse com as correções dos meus textos. Alguém que tivesse paciência com um iniciante.


Nas minhas andanças, e por coincidência profissional, conheci o professor Doutor José Pedro Antunes, da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Eu trabalhava na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, ambas situadas no Campus de Araraquara. 


A Faculdade de Ciências Farmacêuticas sediou um Congresso de Iniciação Científica. Para a abertura do evento entrei em contato com Zé Pedro, pois ele era o criador, juntamente com os discentes e servidores do Campus de Araraquara, do “Xou Nosso” - um evento prata da casa: participavam discentes, docentes e servidores. A única exigência era ter arte, cultura, enfim, sensibilidade teatral e musical.


A partir deste evento, durante nossos encontros e conversas — nos quais abri meu coração e falei tudo o que sonhava fazer —, Zé Pedro topou na hora. “Fica tranquilo, eu já faço correção de provas por obrigação do cargo. Pode mandar que eu corrijo numa boa.”


Foi assim que conheci, com mais profundidade, o Zé Pedro. Ele transpirava arte e cultura. Sua sensibilidade era latente. Sei que tocava um pouco de música e chegou a se apresentar uma tarde inteira para Jorge Amado e sua esposa, Zélia Gattai. Surgiu daí uma singela comparação com Chico Buarque de Hollanda. Zé era também um grande tradutor, pois lecionava literatura alemã.


Iniciamos a parceria. Mas meus primeiros textos foram muito difíceis para o Zé Pedro corrigir. Parecia que exigiam quase um tradutor da própria língua. Quando os textos voltavam, eu tinha a impressão de que estavam descaracterizados, como se fossem outros textos. Fiquei bravo, mas resolvi aceitar. Zé Pedro nunca diminuía o meu texto, mas também não elogiava. A única exceção foi o título “A Menina da Sombrinha Azul”, em que retratei um pouco da cidade de Paraty e da Flip — a Feira Literária Internacional de Paraty. Ele disse: “Gostei.” E eu respondi: “Até que enfim!”


Ele ficava feliz quando eu ia entregar o “Cenário” (jornal mensal de Motuca - minha terra natal) pessoalmente na sala dele, na Unesp. Um dia ele confessou que gostava de ser meu primeiro leitor.


Zé Pedro queria conhecer Motuca, nossa cidade, e ajudar nos saraus que fazíamos na época. Nossa equipe, porém, mostrou certa relutância: “Onde e como vamos acomodar o Zé Pedro, uma figura tão ilustre?” E assim perdemos a grande chance de ter o Zé Pedro em Motuca.


Agora, só nos resta procurar o Zé Pedro em alguma constelação… E sentir saudades dos bons bate-papos nos cafés da padaria “Pão da Terra” ou da “Casa Deliza” de Araraquara.


 
 
 

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