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Sigo à risca as recomendações sobre a pandemia; e o isolamento tem seu lado positivo


Na pandemia aprendi a apreciar coisas novas e voltei a fazer tarefas que há tempos não fazia. Ilustração: Banco de Imagens



“Espero e prevejo que o mundo aprenderá com uma campanha bem-sucedida contra a covid-19 e que continuaremos com campanhas bem-sucedidas contra questões globais maiores, porém mais sutis, como as mudanças climáticas."

"Se isso acontecer, a tragédia da covid-19 pode resultar em um grande legado positivo" (Jared Diamond, antropólogo, vencedor do prêmio Pultzer)



No início da pandemia, em março, achávamos que tudo passaria rápido. Tomei todas as providências que a ciência indicou: isolamento social, álcool 70°, uso de máscaras, bom senso, solidariedade e tentar manter minha saúde mental e física. Porém este vírus, por sua natureza, criou maneiras de continuar sobrevivendo, então tivemos que apreender a lidar com ele. Este “novo normal” trouxe desafios que aos 60 e poucos anos não eram esperados. Há tempos não fazia diariamente os afazeres de uma casa, pois sempre trabalhei fora. O distanciamento social me obrigou a encarar este primeiro desafio.


No início foi difícil, pois sabia fazer o básico e uma coisa de cada vez… Aos poucos fui aprendendo a cozinhar com meu filho Bruno e sua namorada Juliana. Também me esforcei para tentar coisas que aprendi ao observar a Elza, que comandava minha cozinha sempre com amor e assobiando. Acrescentei a música aos temperos e fui criando, usando a internet para fazer um quibe sem carne e uma feijoada com legumes (os meninos são veganos).


Aprendi a apreciar coisas novas: fumaça líquida, churrasco de legumes e outros temperos… Amo o Açafrão! E a paixão foi tomando o lugar do medo da cozinha. Daí também nasceu a vontade de cuidar da pequena horta, espaço que nos fortaleceu: existe mágica em produzir sua própria comida sem veneno. Além disso, nos deu opções de saladas e refogados durante um bom tempo. Aprendi também lavar e passar roupas com esmero e, claro, com música… limpo a casa também, mas por extrema necessidade!


Para cuidar da cabeça, retomei algumas atividades que aprendi com minha mãe, principalmente costurar. Amo costurar! Fiz algumas peças para meu filho, algumas reformas, remendos e forros para caminha dos cachorros daqui e de Manaus, onde mora minha filha caçula Maria Júlia. Fiz também um poncho de crochê para ela e um sapatinho para Maria Luiza, minha netinha – que nasceu no meio da pandemia (bem-vinda linda Malu).


O tempo em casa trouxe com ele oportunidades. Li Ana Karênina, de Tolstói, que já havia iniciado duas vezes e achava que nunca terminaria (recomendo). Li muitos gibis da coleção do meu marido Neu. Junto com ele, assistimos muitos filmes, seriados e lives. Voltei a fazer “palavras cruzadas” (ganhei um livro cheio delas, da minha filha Maria Rita). Tive também que me reinventar: fazer algumas compras online, usar o PIX e o Chromecast, me consultei e enviei os exames por whatsapp. Estamos isolados, porém juntos com parte da família, o que nos possibilitou muita conversa regada a cerveja, música e vídeo chamadas com os filhos e amigos distantes e também isolados – algumas destas enfeitadas de muitas risadas.


Outro desafio foi cuidar do físico. Comecei com caminhadas ao redor de um pequeno campinho de futebol, mas eu sentia muita falta do Pilates. Até que retomei as aulas online, mais uma dificuldade a vencer: lidar com a tecnologia. Foi difícil, mas gratificante! Além do físico, também era preciso cuidar do meio à nossa volta, a natureza – diminuímos o consumo de carne, de plástico e de gasolina e temos uma composteira, que além de diminuir consideravelmente o lixo ainda temos adubo orgânico para alimentar a horta e o jardim.


Enfim, tive que me atualizar muito para passar por esta crise – que infelizmente ainda não acabou. Aprendi (de verdade) que precisamos muito uns dos outros e que devemos nos tratar com educação e respeito. Foi preciso dizer não a pessoas queridas, mesmo sentido falta daqueles abraços; foi preciso pensar na minha saúde e na dos outros, dizendo não a encontros presenciais; e principalmente foi preciso abrir mão de muita coisa pensando no futuro – ele há de ser melhor.


Vivemos tempos sombrios. Mais de 250 mil mortos por COVID no Brasil, desmatamento assustador na Amazônia, mudança climática provocando o caos no mundo. A fome voltando ao país, a desigualdade social, o crescimento do negacionismo (negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável) incentivado pelo desgoverno e o descrédito à ciência. Porém há o lado bom. A ciência brasileira mostrou a que veio: sequenciou o genoma do vírus em 48 horas e mesmo com falta de insumos e pouquíssimo apoio do governo, fez uma vacina em tempo recorde.


O início da vacinação, mesmo que lento, me trouxe esperança. Estamos perto do quê mais nos faz falta, no meu caso: o abraço dos meus filhos, dos meus irmãos, sobrinhos, amigos e de tomar nos braços a pequena Maria Luiza.

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