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A última porteira

Foto do escritor: RedaçãoRedação

Há uns bons tempos atrás, para chegarmos ao rio Mogi-Guaçu, tínhamos que abrir no mínimo umas quinze porteiras e cada uma era recheada de histórias de assombração. Na região do bairro Córguinhos as lendas de lobisomem, mula sem cabeça e saci eram aterrorizantes.

Um belo dia, um forasteiro veio visitar seus parentes que moravam lá. Quando passou por Motuca parou em um bar e começou a beber. Já era tarde da noite quando pegou seu cavalo e continuou a viagem para chegar aos Córguinhos. Mesmo intrigado com as histórias de assombração que ouviu no bar, o caboclo era valente, nada temia e continuou então seu trecho.

Quando chegou na primeira porteira viu que ela se abriu sozinha. O caboclo ficou branco, mas não demonstrou medo, e passou pela porteira...

Dali por diante todas as porteiras foram se abrindo e em cada uma delas o mesmo espanto e o mesmo mistério!

Quando faltava a última porteira ele observou que ali o estranho fenômeno terminava. O caboclinho já não sabia mais o que rezar... rezou tanto que até se atrapalhou em suas rezas. Mas ele tinha que manter sua fama ou pelo menos não demonstrar medo. Chegando na última porteira ela não se abriu e foi aí que o medo aumentou. O caboclinho perguntava para si mesmo: e agora o que eu faço? Ele fez de tudo para não descer do cavalo e não desceu.

Quando passou e fechou a porteira olhou para traz naquele caminho escuro e disse: “eu vim de Motuca até aqui e na última porteira você me abandonou e não abriu para eu passar. Isso é a ingratidão”.. e apertando a espora no seu cavalo, saiu em carreira, pois naquele momento, naquela porteira se ergueu uma bola de fogo que também disse algumas palavras ao cavaleiro:

"Ingratidão foi o que fizeram comigo e até hoje eu cumpro essa sina. A covardia e o medo me tiraram a vida e aqui nesta ultima porteira cravaram em mim um punhal. Até hoje esperei um homem de coragem como você, que viesse até aqui abrir a última porteira... me libertando desta triste sina..., pois a última porteira é o que me aprisionava neste mundo... obrigado”.

Nunca mais viram ou ouviram algo naquelas bandas. Mas até hoje ainda causa arrepios nas pessoas que sabem da história ao passarem por aquela curva onde ainda existe um mourão. Talvez seja o da mesma porteira que ali permanece como uma prova física do fato ocorrido


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