Sabe-se que há nas relações entre a sociedade e o espaço que ela ocupa um intenso fluxo de influências. Esta constante troca praticada entre os indivíduos e o meio externo carrega em si informações preciosas sobre a identidade de ambos. Não raro, nota-se como os grandes centros urbanos dispõem de condições que favorecem o amadurecimento de qualidades individualistas.
O estilo de vida predominante nas grandes metrópoles é resultado, principalmente, de processos históricos que deram autonomia ao homem enquanto ser individual capaz de reger a si mesmo. Mudanças comportamentais, culturais e sociais trouxeram à luz uma sociedade de valores opostos à tendência ao coletivo que vigorava antes da instauração do chamado mundo moderno. Vivendo sob as diretrizes desse mundo, o homem se tornou refém de suas próprias ambições.
É perceptível como nas áreas de população e extensão reduzidas o impacto que tais mudanças provocam nas relações sociais é menos intenso, o que gera melhores condições para o desenvolvimento da sociabilidade entre seus habitantes. Em cidades ou comunidades de pequena proporção é possível identificar traços dos princípios da coletividade mais facilmente.
Muitas das manifestações socio-culturais evidenciam esta afirmação.
A morte, por exemplo, é um dos fenômenos naturais mais reveladores nesse sentido, pois a maneira como o corpo coletivo encara este fato denuncia as suas características enquanto uma sociedade.
Há no enfrentamento da morte uma ambivalência muito clara entre os centros metropolitanos e cidades pouco expressivas, sobretudo, populacionalmente. Em geral, no primeiro caso, quando não passa despercebido, esse fenômeno é visto como um acontecimento cotidiano e distante. Salvo quando há vínculos estreitados, a morte de um outro indivíduo não tem potencial suficiente para intervir ou abalar as estruturas de natureza social ou individual. Torna-se nítido o modo como os ambientes cosmopolitas são estruturados para fortalecer e dar fluidez às práticas comerciais e não às relações sociais; fato que é proeminente sobre essa questão.
No caso das pequenas cidades, a consciência abrangente desses indivíduos transcende a sua visão para além de si mesmo. A percepção amplificada da realidade e da estrutura social, bem como uma maior sensibilidade para com as questões que dizem respeito ao grupo a que se pertence dão a essa categoria de espaço um caráter mais humanizado e cordial.
Estas sociedades de características solidárias encontram-se cada vez mais ameaçadas pela sedução e a imposição da modernidade em seu estado potencializado. Simultaneamente, os interesses e as responsabilidades mútuas se esvaem; o que é preocupante se levarmos em consideração que, em conformidade ao sociólogo francês Émile Durkheim, o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do indivíduo.